Como eu (não) vou usar a IA nesse blog
Em um mundo de processadores, quem usa o cérebro é rei 👑

Esse post não tem receita mas é igualmente importante. Queria falar sobre uma coisa que tem me incomodado bastante ultimamente: não saber mais o que é “conteúdo de verdade” e o que foi gerado por IA, já que ninguém avisa.
Já faz algum tempo que uma boa parte do conteúdo do Instagram, por exemplo, não é feito por humanos. Existem milhares de livros inteiros, da capa ao rabo, feitos com inteligência artificial. Dos vídeos, nem se fala: era fácil sacar quais eram feitos por IA há um ano, mas a tecnologia avança exponencialmente e já me pego sem saber quais são reais com bastante frequência. E ó, eu tenho 31 anos, não sou boomer, não (apesar de usar gírias como “sacar”).
Aliás, não sou nadinha contra a IA: uso todos os dias. Já substituiu o Google, pra mim. Pergunto tudo pro ChatGPT (às vezes uso o buscador tradicional pra checar os fatos, mas a porta de entrada é sempre a IA). Qualquer dúvida besta, dessas que eu tenho em abundância, e pronto: corro lá. Adoro ter quase toda a sabedoria do universo assim, ao alcance de uma pergunta. Já aprendi muito com essa ferramenta. Fiz até minha prova de italiano depois de estudar por um mês exclusivamente com ajuda da GPTzinha e passei. Mas aí é que tá: quem fez a prova fui eu, sem IA pra responder por mim. Foi uma ferramenta para um fim e é assim que deveria ser.
Sobre geração de conteúdo (textos e imagens), principalmente na gastronomia, meu posicionamento é contrário ao uso de inteligência artificial. Pra mim, é enganar o cliente, o leitor ou quem quer que seja o usuário final. É muito fácil gerar um texto e uma imagem, copiar, colar e chamar de post. E não é que a vida precise ser ainda mais difícil do que já é, mas não é isso que eu quero consumir, então não é isso que vou oferecer. Isso significa que vou cometer erros, gramaticais e não só, mas também que coloquei verdade naquilo que tô entregando.
Tenho visto muitas confeiteiras vendendo doces no Instagram com “fotos” inteiramente geradas por IA. Às vezes fica óbvio, outras nem tanto, mas nunca é informado. O feed fica lindo, profissional, uma graça. Mas o produto entregue com certeza não estará a altura, simplesmente porque nós não somos máquinas. Doces - e pessoas - tem defeitos. Sempre vai ter um rachadinho, uma migalha caída, um pouquinho de creme fora do lugar, uma voltinha do bico de confeitar que saiu torta. É claro que a IA também sabe disso e está prontíssima pra fingir esses defeitinhos na tentativa de se passar por realidade, mas o problema continua sendo o mesmo: é desonesto dizer que aquilo foi feito por você.
Pra mim, a solução é simples: falar a verdade. Não tinha uma imagem legal e você achou melhor gerar uma com o ChatGPT do que fazer um post só de texto? Beleza. Informe. Uma simples legenda dizendo “imagem ilustrativa gerada por IA” já resolve. O mesmo vale pra textos. Não é um crime usar a IA pra escrever mas, como leitora, eu prefiro saber antes. Quando leio algo, quero saber o que pensa aquela pessoa, o que sente, como vê o mundo, ou no caso, como faz uma receita. Em se tratando de textos, minha preferência pessoal é por aqueles de humanos. Mas fica difícil escolher o que ler se ninguém te conta de onde aquilo veio.
Por isso, nos meus posts, vou colocar esse selinho ⤵️. Não é a primeira vez que uso: em Novembro de 2023 lancei meu livro e para os leitores atentos que repararam, lá na página do ISBN, ele já estava presente. É uma autodeclaração - sem nenhuma comprovação, na base da confiança mesmo - de que escrevi os textos e tirei as fotos (ou ao menos são fotos reais tiradas por outras pessoas, com os devidos créditos).
Também bloqueei o uso dos meus textos no Substack para ensinar inteligências artificiais (você pode fazer o mesmo em Configurações > Privacidade > Bloquear treinamento de IA) mesmo sabendo que isso é menos que um átomo no oceano. Seria muita pretensão achar que uma tecnologia que pode acessar todo o conhecimento do mundo, incluindo obras em domínio público (e não) de grandes gênias e gênios de todos os tempos, precise dos meus textos pra aprender alguma coisa. Mas sigo fazendo o pouquinho que posso fazer.
No fundo, sempre vai ter dedinho da IA no que eu escrevo e crio, indiretamente, em algo que eu aprendi através dela, pesquisei, confirmei, traduzi ou me aprofundei. Não tô dizendo que a gente deve viver na Idade da Pedra de novo. É só continuar criando com a nossa bagagem pessoal, que pode e deve ser enriquecida com as novas tecnologias, sem apagar o lado humano. Sem copiar e colar. •